SELEÇÃO DE FILMES
Prepare a pipoca, a canga ou a sua cadeira de praia!
Venha participar da primeira Mostra de Cinema ao Ar Livre no Cabo de Santo Agostinho!
A MOCCA – Mostra Cabense de Cinema Ambiental inaugura sua trajetória propondo uma escuta atenta aos impactos provocados pela expansão industrial e portuária em Pernambuco. A mostra parte do território para pensar o cinema, e do cinema para pensar o território: não como uma vitrine de causas, mas como uma linguagem capaz de refletir criticamente sobre as transformações em curso. Em sua primeira edição, realizada na Vila de Nazaré, às margens do complexo portuário de Suape, a programação reúne obras que interrogam os modos de vida ameaçados por projetos de desenvolvimento que atravessam corpos, memórias e paisagens.
Os filmes escolhidos, de diferentes formatos e procedências — animações, documentários, vídeo-performances, séries —, convergem no gesto de olhar o presente com radicalidade. São obras que não buscam apenas informar ou denunciar, mas reorientar a sensibilidade: fissuram o habitual, retomam a densidade do espaço vivido, e propõem novas formas de presença. A curadoria, ciente da potência de produções realizadas à margem das grandes estruturas de financiamento, aposta em filmes que deslocam tanto a estética dominante quanto a cartografia simbólica do cinema em Pernambuco, frequentemente voltado para o agreste, o sertão ou a capital.
No primeiro dia, a curadoria se ancora nas margens feridas do território, explorando camadas de memória, dor e risco. Escavações (2025), de Daniela Câmara, inaugura a programação com uma vídeo-performance que ativa as ruínas e a paisagem da Vila de Nazaré como um corpo marcado por cicatrizes abertas, atravessado por tempos e dores não cicatrizáveis. A presença poética da performance anuncia não apenas um passado doloroso, mas também um risco iminente, como se algo ameaçador espreitasse no horizonte próximo, sinalizando a continuidade da ferida no território.
Em continuidade, Nanã (2017), de Rafael Amorim, incorpora elementos ficcionais e documentais para dar voz a uma população submetida aos processos de gentrificação a partir do complexo portuário-industrial de Suape. O filme revela uma resistência que se manifesta na defesa da terra e da comunidade, mostrando que o território é vivido e produzido por aqueles que permanecem e lutam contra o apagamento imposto pelo progresso. Nanã amplia a reflexão sobre a violência do desenvolvimento, destacando a potência das ações coletivas e dos vínculos que mantêm o território vivo.
Fragmentos de Gondwana (2021), de Adalberto Oliveira, dá seguimento ao percurso, revisitando o impacto do vazamento de petróleo de 2019 no litoral de Suape. Ao aproximar-se das vidas atingidas, o filme evidencia como a contaminação afeta a saúde, a economia e a vida comunitária das populações locais. Sem hesitar em denunciar os responsáveis, a obra expõe a macropolítica que sustenta a destruição ambiental, mostrando o impacto direto das decisões políticas e econômicas no cotidiano das pessoas comuns.
Na sequência, Galinhas no Porto (2018), de Caioz e Luís Henrique Leal, amplia a perspectiva ao relacionar a atual paisagem portuária com camadas históricas profundas. Ao seguir um personagem que busca vestígios do passado ligado ao tráfico negreiro e à escravidão, o filme insinua o porto como um espaço onde se sobrepõem temporalidades de dominação e expropriação. Essa costura entre passado e presente revela que os problemas contemporâneos são frutos de processos históricos de violência e opressão que ainda marcam o território.
Para encerrar o primeiro dia da mostra, o longa-metragem Fim de Semana no Paraíso Selvagem (2023), dirigido por Pedro Severien, acompanha o retorno de Rejane — interpretada por Ana Flávia Cavalcanti — à praia fictícia de Paraíso, inspirada em Suape. O local, transformado por um complexo industrial-portuário e pela especulação imobiliária, preserva poucas memórias do que já foi. Após a morte do irmão, um mergulhador encontrado morto no mar, Rejane retorna e se depara com uma cidade dominada por uma rede de poder, corrupção e violência. Ao revisitar suas raízes, ela confronta diretamente os agentes da destruição: as elites econômicas, os grandes empreendimentos e as decisões que violam o território e seus modos de vida. O filme sintetiza os principais temas da mostra — as mudanças no espaço, a brutalidade do desenvolvimento e o embate contra as forças que promovem o apagamento.
No segundo dia, o olhar da curadoria se volta para o elemento água — rios, mares e marés — e para as mulheres que os habitam, cuidam e ressignificam. Essa sequência propõe a água como metáfora viva de resistência, cuidado e transformação, cruzando saberes ancestrais e desafios contemporâneos. A abertura com a animação Mergulhão (2023), de Juliana Soares e Rogi Silva, traz a história de Amara, última moradora de uma palafita no Capibaribe, que resiste em meio aos escombros da cidade verticalizada. Sua escuta sensível aos ecos do mangue ativa uma memória fabular da cidade-rio, um diálogo entre passado e presente marcado pela expulsão e pelo apagamento. Essa mesma tensão entre memória, território e luta pela permanência reverbera em O Mar que Habita em Mim (2023), de Luara Olivia, que escuta as vozes das pescadoras e marisqueiras do litoral sul. Ali, práticas ancestrais se entrelaçam com a denúncia dos impactos ambientais e a precariedade ampliada pela desigualdade de gênero, revelando um saber coletivo que resiste e se reinventa diante das marés da destruição.
Essa resistência é aprofundada em Exília (2015), de Renata Claus, que documenta o deslocamento forçado dos moradores da Ilha de Tatuoca, abalados pela expansão do porto de Suape. Por meio da combinação de depoimentos e animações em stop motion, o filme constrói uma narrativa sensível sobre vínculos rompidos e uma espera suspensa, onde o cotidiano é marcado pela constante ameaça da gentrificação e do apagamento cultural. A dimensão poética e política da travessia ganha uma perspectiva singular em Mar de Dentro (2024), de Lia Letícia, que reconstrói a história de Preto Sérgio — homem negro que escapou da prisão duas vezes durante a ditadura Vargas — a partir de um díptico visual entre arquivo e performance. A água que cerca Fernando de Noronha torna-se ao mesmo tempo prisão e horizonte, um espaço de confinamento e liberdade, e o filme articula essa ambivalência como metáfora da luta por autonomia e memória.
Fechando a programação dos curtas-metragens, a série Cine Memória (2025), dirigida por Eduardo Rodrigues, amplia o olhar para a vida cotidiana nas comunidades de Suape e Engenho Tiriri, profundamente impactadas pela expansão industrial e portuária. Distante do simples relato de trauma, a série destaca saberes da pesca artesanal, festas populares e gestos cotidianos que simbolizam cuidado e resistência. Nesse cenário, a memória compartilhada e o trabalho coletivo surgem como forças que mantêm o território — e seus habitantes — vivos, mesmo diante das ameaças constantes. Resistir, nesse sentido, transcende a denúncia: é sustentar a existência.
Logo depois, o longa-metragem Nordeste Água e Óleo, de Guga Betanin, retoma o desastre ambiental do vazamento de petróleo de 2019, ampliando o debate sobre as consequências socioambientais que se estendem por mais de dois mil quilômetros do litoral nordestino. Por meio de entrevistas, imagens de arquivo e registros de campo, o filme denuncia os responsáveis pela catástrofe e suas repercussões para as comunidades litorâneas, ao mesmo tempo que aponta caminhos para a reconstrução e a esperança. Ao articular a denúncia com a resiliência dos territórios, o filme reafirma o cinema como espaço de resistência e reexistência — um diálogo que atravessa toda a programação da MOCCA.
Ao longo de dois dias, a MOCCA constrói uma cartografia audiovisual da crise e da permanência. A mostra propõe o cinema como um campo de escuta expandida — onde território, corpo e linguagem se entrelaçam para reimaginar o presente. A curadoria aposta em filmes que não apenas registram, mas intervêm: obras que se fazem presença, fissura e travessia. Do Cabo de Santo Agostinho ao Recife, de Suape a Fernando de Noronha, o cinema se estabelece como espaço de reencontro com o que ainda pulsa, apesar de tudo.


Escavações (2025) | Daniela Câmara
Sinopse: Vídeo-performance de Daniela Câmara, fala da existência do ser humano e seus arroubos impensáveis e inconsequentes em relação à natureza a qual está inserido. Através da Voz-Corpo-Poesia a atriz se inspira no cenário deslumbrante das ruínas da Vila de Nazaré, litoral sul do Cabo de Santo Agostinho.


Nanã (2017) | Rafael Amorim
Sinopse: Nanã reimagina o cotidiano no território em trânsito de Suape em Pernambuco, conectado as forças sutis e violentas que o atravessam. Articulando a denúncia de ações mundanas com o anúncio de um mundo por vir.


Fragmentos de Gondwana (2021) | Adalberto Oliveira
Sinopse: Problemas antigos são expostos após o impacto do Óleo em Suape – PE, somando com o contexto atual em que o Brasil vive.
Yuri Lins | é curador, roteirista e realizador. Graduando em Cinema e Audiovisual pela UNIAESO e mestrando em Comunicação pela UFPE, integra a equipe de curadoria do cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Atuou como curador em cineclubes como o Cineclube Dissenso e o CineMAMAM.
DIA 1 (Sábado, 26 de Julho)




Galinhas no Porto (2018) | Caioz e Luís Henrique Leal
Sinopse: B. é um pesquisador. Ele parte em viagem em busca do farol. Encontra a escuridão. Como tocar as histórias não escritas dos que vieram antes de nós?
Fim de Semana no Paraíso Selvagem (2023) | Dir. Pedro Severien
Sinopse: Rejane (Ana Flávia Cavalcanti), a protagonista da história, passou parte de sua infância nesse local, mas foi obrigada a deixá-lo de maneira abrupta e violenta. Anos depois, ela retorna a Paraíso, agora transformada por um complexo industrial-portuário e pela especulação imobiliária. A motivação para o retorno de Rejane a Paraíso é o trágico fim de seu irmão, um experiente mergulhador encontrado morto no mar. Enquanto busca explicações para o ocorrido, ela se vê envolvida com figuras poderosas e perigosas que controlam a cidade.


Mergulhão (2023) | Dir. Juliana Soares e Rogi Silva
Sinopse: Amara vive na última palafita do Rio Capibaribe depois que os outros moradores foram forçados a migrar para outras áreas da cidade. Cercada por prédios altos e ruas desertas, seus vizinhos mais próximos agora vivem enclausurados em seus condomínios de dezenas de andares ou circulando em seus carros velozes e blindados. Há muito tempo ela não tem contato com ninguém, a não ser os seres que ainda habitam o poluído rio e a memória da cidade onde cresceu, materializada nos objetos perdidos que ela recolhe no mangue e abriga em sua casa.
DIA 2 (Domingo, 27 de Julho)


Nordeste Água e Óleo (2025) | Guga Betani
Sinopse: Cinco anos após o derramamento de petróleo no nordeste, narrativas humanas e não-humanas ainda carregam cicatrizes de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. Sinopse: Em 2019, o Brasil enfrentou a maior tragédia ambiental em extensão de sua história: um misterioso derramamento de petróleo cru atingiu mais de 2 mil km do litoral. O desastre mobilizou comunidades, ativistas e instituições, mas deixou marcas profundas e ainda visíveis no meio ambiente e na vida das pessoas afetadas. Cinco anos depois, este documentário investiga os impactos dessa catástrofe no litoral pernambucano — revelando não só as consequências ainda presentes, mas também os caminhos e desafios para o futuro das áreas atingidas.


O Mar que Habita em Mim (2022) | Dir. Luara Olívia
Sinopse: O mar que habita em mim narra o processo de trabalho e a relação das mulheres com a pesca artesanal e a saúde, a partir de pesquisa feita nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, litoral Sul do estado de Pernambuco, com o objetivo identificar os processos de vulnerabilidade socioambiental e a saúde das mulheres pescadoras e marisqueiras de comunidades desses municípios.


Exília (2015) | Dir. Renata Claus
Sinopse: Dona Bernadette visita Dona Leriana, sua antiga vizinha na Ilha de Tatuoca.


Mar de Dentro (2024) | Dir. Lia Letícia
Sinopse: A incansável insubmissão ao poder de Preto Sérgio e sua busca pela história do que não foi revelado, desamarrando os nós a partir dos bons ventos que o levam ao mar de fora e ao mar de dentro.


Cine Memória (2025) | Dir. Eduardo Rodrigues
Sinopse: Cine Memória é uma série de pesquisa documental que mergulha na rica e fascinante história dos pescadores, pescadoras e marisqueiras das comunidades de Suape e Engenho Tiriri, localizadas no município do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco.
MOCCA
SIGA NOSSAS REDES SOCIAIS!
mAIS INFORMAÇÕES pelo whatsapp ou instagram
+55 81 999181800
© 2025. Todos os direitos reservados Instituto Materialize Ideias.
Webdesign | Plantemídia Produções Criativas
Termos e Condições de Uso
@mostramocca